No atual debate pós-moderno e transmoderno da cultura, o diálogo intercultural renova-se através dos incertos limites dos territórios externos e internos da cultura. Nisso, um dos elementos essenciais no campo cultural nas últimas décadas do século XX é o descentramento - em vários sentidos e não somente no que diz respeito ao territorial. Pode-se pensar, assim, que existe um descentramento do sujeito e das identidades provocado pela fragmentação social, descentramento geográfico facilitado pelo desenvolvimento tecnológico e descentramento cultural favorecido pelas tendências multiculturalistas e pelos diálogos interculturais que se intensificam a partir da década dos 80. Existem processos que redimensionam ou, pelo menos, recolocam o papel da periferia, das margens e do terceiro mundo na história e na teoria. Tais descentramentos supõem, por outro lado, a dissolução de fronteiras, de heterogeneidade cultural, de interpenetração de discursos, de diálogo entre "mundos".
Este número de Ómnibus se dispõe a fazer dialogar a cultura sobre e do Brasil através de diversas linguagens que conjugam letra, som e imagem para pensar, entre outras questões, as fronteiras dissolvidas entre o mundo tecnológico e o mundo natural, o global e o local, o universal e o regional, assim como os discursos "originais" e hibridismos, cânones e margens, enfim, territórios que se sobrepõem uns aos outros, interstícios constantemente ampliados. Isso o comprovam os distintos olhares sobre o cinema brasileiro passado e atual, a literatura que lê a música ou a música que lê a periferia, a emergência da linguagem dos vídeopoemas, a necessidade de uma literatura infantil "comestível", a fusão das artes plásticas na poesia local, ou os olhares, desde o Brasil, de processos colonizadores e colonizantes espanhóis ainda pouco conhecidos, como os ocorridos na região do Amazonas. Um encontro, um diálogo entre diversos mundos e linguagens que às vezes se opõem e às vezes se complementam: rios, margens, cercanias, cantos tristes, crônicas, (anti)poesia daltoniana, marca clariceana...
As organizadoras deste número da revista desejam expressar seu agradecimento aos autores participantes de diversas procedências do Brasil, estendendo um agradecimento especial aos estudantes, professores e recém formados de cursos de doutorado e mestrado em literatura da Universidade Federal de Santa Catarina, localizada em Florianópolis, a pequena e sulina Ilha de Santa Catarina.
À leitura, à escuta e ao olhar, então!