Esta sequencia de artigo sobre definições de conceitos do mundo do humor, parece uma grande paródia à realidade, já que por muito que tentemos diferencia-los, acabam sempre por se confundir, e só mesmo os estudiosos, que perdem seu tempo nestas deambulações labirínticas das palavras e seus significantes é que conseguem ver as nuances.
Costuma-se dizer que a vida não passa de uma grande Paródia, mas mais uma vez estamos a empregar mal as palavras, porque o sentido mais popular de Paródia, ou seja uma grande brincadeira, não é o sentido conceptual da palavra. Será mais correcto dizer que a vida não passa de uma anedota humorística, de um chiste.
Essa grande paródia, a festa que se fez, a brincadeira que a todos divertiu esta adulterada porque a base da verdadeira paródia está no Teatro, na dramatização da vida em comicidade, contudo para ser uma Paródia verdadeira,não pode ser um simples jogo de brincadeiras, de trocadilhos, mas sim um jogode ambiguidades entre a realidade e a reconstrução humorística.
A Paródia é a utilização de factos, situações, estilos, realidades concretas e com usa-las como género, como estilo, como tema para em comparação fazer humor. Por exemplo usar uma peça de teatro bem conhecida e "adulterar" o sentido das palavras para transmitir a nova mensagem no jogo da mesma representação anterior com um sentido novo. No caso do desenho é usar figuras de personalidades conhecidas ou o estilo de um artista plástico célebre para dar novo sentido á mensagem que se quer transmitir.
Por isso quando o povo diz que a noite anterior foi uma grande paródia, quer dizer que imitou a realidade em novas situações humorística, mas fê-lo sem ter consciência da utilização de elementos de imitação para parodiar o sério com o humor.
Como podem verificar até a mim me está a custar explicar bem este conceito de Paródia. Todos já compreendemos o sentido, mas não através das minhas palavras.
A Comicidade tem muitos rebentos que, por serem tão diferenciados, são porvezes considerados de pais diversos apesar da maternidade nunca ser contestada.Uma interpretação conveniente às mentes sérias, de uma certa intelectualidaderetrógrada, considerar a Comicidade como uma rameira social.
Os Homens sempre tiveram dificuldade em olharem-se ao espelho e aceitarem-se como são, animais eternamente selvagens que nem os figurinos civilizacionais conseguem maquilhar totalmente. Esse lado selvático sobrevive de muitas formas, principalmente na dificuldade de se rirem de si próprios e dos seus defeitos e, na actualidade, esse substrato desumano tem o nome pomposo de Economia Liberal, Economia Global...
A Comicidade é um desmaquilhante que tem a virtude de nos fazer ver mais alem do vidro do espelho, para além da mascara das aparências. De todos os seus filhos, a Sátira é a que se insere mais a fundo na alma humana, na alma da sociedade, porque é a que tem o olhar mais descarnado da realidade.
De todas as irmãs, a Sátira é a que se diz mais descarada, mais irreverente, por vezes raiando a má educação. O Grotesco tem um génio muito parecido com o seu, contudo falta-lhe um pouco da sua inteligência, o que acontece também com o Burlesco. A Ironia é aquela que prima pela esperteza do jogo dúbio, enquanto que o Humor se define pela subtileza da inteligência pura. A Paródia é a intelectual da família, e a Caricatura a obcecada pela fácies dos seres...
Regressando à Sátira. Dizem os estudiosos que a sua origem etimológica deriva das Saturas pequenas dramaturgias de cunho licencioso e sarcástico da cultura etrusca, que se diferenciavam das Fesceninias pelo uso dominante do canto e da dança, mantendo assim as suas raízes com as festas campestres desmascaradoras das falsas tragédias construídas pela sociedade humana. Era uma nova via de desenvolvimento das Comédias criadas pelo mundo grego, e que nesta nova Idade do mundo romano terá cultores como Lívio, Andréonico, Névio...
Entretanto o género Satírico desaparecerá, para só renascer na decadência da Idade Média, ou seja quando se verifica um renascer do equilíbrio do Homem como ser social, não subjugado pela mente guerreira dos feudos, mas como individuo integrado num vasto grupo de seres humanos. A Sátira não gosta nem da anarquia, nem da ditadura opressiva, antes prefere um ambiente de democracia para melhor fazer valer seus argumentos críticos.
É uma forma que procura preferencialmente nos governantes as suas vítimas. Quando nos finais do séc. XVIII, principio do séc. XIX se desenvolveu a critica politica de cunho humorístico na imprensa, de imediato se baptizou essa criticas politicas como desenho de sátira politica, o que é em parte um exagero, já que nem todos os desenhos políticos são sátiras. É a mesma questão da Caricatura, termo que se usava como englobador de todo o desenho de imprensa com cunho cómico, e que hoje em dia muita gente substitui por Cartoon. Sim, é a eterna confusão de Conceitos, de designações.
Esta nova comicidade, a "Sátira" nunca é totalmente nova, porque nada se cria, antes tudo se transforma, e como seu antepassado podemos falar das "Diatribas" gregas, ou seja a estrutura critico-cómica dos Cínicos, uma visão agressiva e amarga da critica social, onde a comicidade tempera-a como uma pitada de sal.
A máxima típica do satírico é "Ri melhor, quem Ri por último", como se o jogo critico fosse uma competição de agressividade, de insolência, contudo a inteligência mais uma vez procura impor na comicidade a sua marca humana, e afastar o Homem da animalidade selvática. Por isso a verdadeira Sátira não joga com a mesma arrogância, a mesma irreverência ofensiva que o Grotesco.
A Sátira, como género próprio de Comicidade ou de Humor usa a inteligência da crítica com um fim moralista. É como as Fábulas, que têm uma base de moral, mas que no caso da sátira não anda pelo mundo da fantasia, mas antes pelas entrelinhas humorísticas da agressividade directa. Ataca os vícios do mundo, os vícios dos políticos, os pontos fracos do individuo para o alertar para a sua má conduta, dando-lhe hipótese de remediar a questão, de se corrigir.
Quase se pode afirmar que a Sátira é uma das formas criticas mais conservadoras, porque tem sempre uma moral mais rígida que a ironia ou que o humor, já que estas são mais irreverentes e mais progressistas. A Sátira critica com o peso de uma ética que o satirizador defende, uma moral consolidada já na sociedade em que o critico se insere.
A Sátira ridiculariza como um purgante, por que não quer provocar a indignação, antes a tolerância já que a sua critica não joga nas ambiguidades, antes vai directa ao assunto, apontando todos os elementos críticos numa tentativa de consciencialização pelo riso.
O riso, neste jogo crítico, não é um achincalhar, antes um piscar do olho à legítima indignação do criticado. Este deve ficar indignado pelos seus defeitos, pelos seus erros terem sido postos a nu, mas deve saber rir-se com o crítico, com a sociedade e ter a inteligência de apreciar até que ponto é certa a critica.
Claro que nos dias de hoje, com a falta de tempo, com o stress do dia a dia se vai ver se uma critica de humor político tem ou não moral, até mesmo se os políticos têm moral, porque o importante é fazer rir os leitores dos jornais, é apontar as opiniões de cada um e seguir para a frente, já que o desenho que hoje se publica na manhã, já está ultrapassado pelo jornal da tarde e do dia seguinte.
Contudo para cada palavra ainda existe uma definição, um conceito, e segundo os meus estudos, este seria o correcto para a palavra Sátira, uma critica com comicidade feita de uma forma agressiva e directa, com uma opinião moralista para obrigar a pensar os leitores e o visado.
Se resulta ??? ... Palavras atrás de palavras, é o que parece esta Paródia de mundos.
Eu só sei, que cada vez menos sei. Não é uma máxima da ironia socrática, antes uma reflexãp crua da vida que com a idade vamos tomando consciencia. Quanto mais queremos aprofundar os conceitos, confrontando-os com a realidade, com e execução no papel, e não apenas no ambito filosofico, tomamos consciencia de que não só não os conseguimos catalogar, assim como ficamos ainda mais confusos.
Prometi que ia falar da Ironia, mas a ironia da vida leva-nos à ironia socratica de que uma boa escrita, nunca se deve repetir a mesma palavra, senão chegamos á conclusão de só sei que nada sei.
Na ezpressãp popular, ser irónico é "falar" de uma forma ambigua, expressarmo-nos de uma forma desssimulada. Isto porque a base da ironia no teatro grego é preciasmente nesse sentido. Na comédia grega existe um personagem de nome "Eiron" que se caracteriza por viver da dissimulação, que nunca revela abertamente o objectivo das suas frases, sendo o contrário do "Alazón", o fanfarrão de de forma comico-exagerada diz abertamente tudo o que tem de dizer. A raiz da palavra Ironia, provem desse terrmo Grego, que para além de personagem era tambem um conceito entre as variantes da comicidade. É um aspecto de comicidade que alguns filosofos como Aristoteles definem como um critica, um logos imoral.
Porém para Socrates a ironia será a base da sua forma de expressão. É a ironia, não como estrtura de comicidade, mas de dialéctica, de astúcia pdagógica. Atravez dos contrários, da pergunta respondida com pergunta, do fingimento do desconhecimento leavr o interlocutor de negativa em negativa até à descoberta da realidade, ou do pensamento tal como o primeiro interlocutor desejou desde o principio, sem impor logo ao segundo interlocutor a pensamento que ele sempre quis que o outro deduzisse. A anti-frase é um processo de diálogo que pela sua complexidade nos leva ao sorriso pela vito´ria da arte da dessimulação. Essa a ironia da vida dizer que não para os outros concordarem conosco no sim. Sim parece pura politica camaleonica. Por ser um esquema de pensamento tão obscuro, alguns pensadores apresentam-na como o lado negro do sarcasmo, enquanto que outros o definem como a pureza da inteligencia humoristica, da vitoria do existencialismo feito sorriso.
Considerada como uma estrutura não propriamente cómica, já que o seu aliado não é a gargalhada, mas o sorriso, acabou por ser afastada dos estudos do cómico da Idade Clássica e da Idade Média, para ser recuperada aos poucos pela Renascença.
Como todos sabem, a comicidade sofreu no final da Idade Clássica e durante a Idade Média a perseguição do pnesamento cristão, aterrorizada pelo triunfo da irreverencia, en vez de consagrarem o sofrimento, a dor de Cristo. Os homens não devem viver o triunfo do riso, antes viver o medo do Inferno, o medo do pecado. O riso éra muito mais perigoso que a palavra, razão pela qual todas as ordens monásticas o vão condenar e considerar o pior inimigo do voto do silencio. Uma palavra pode sussurrar-se e ninguem ouvir, enquanto que o riso não só denuncia o pecador, como contagia. Mas a ironia da vida faz com que seja a própria igreja a recuperar a ironia como arma de pulpito na guerra entre reformadores e contra-reforma.
Com o Renascimento verifica-se a decomposição do riso popular, do riso de grupo para impor o riso individualizado, mas subjectivo. Essa subjectividade é o fim do riso como cumplicsidade social contra o poder, é o triunfo do controle do riso pela ética, pela moral, pela politica. A comicidade deixa de se basear no baixo ventre, para se impor como uma estrtura especial de pensamento, muito mais intelectual, mais inteligente, onde o Humor triunfará sobre o chiste, sobre a brejeirice. Renascem velhas estruturas de ironia, de sátira, de sedução cómica. O Grotesco dá lugar ao subtil pensamento. Maquiavel será um gério da ironia, mas de todos as ironias a que mais se celebrará pelos séculos será a de D. Quixote, serão as obras de Cervantes.
(*) Osvaldo Macedo de Sousa (Porto, Portugal, 1954). Licenciado en Historia por la Facultad de Letras de Lisboa. Investigador nacional e internacional de caricatura, curador de más de 300 exposiciones y autor de más de 40 estudios y biografías de humoristas gráficos. http://humorgrafe.blogspot.com/